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As Tecnologias da Inteligência - o futuro do pensamento na Era da Informática, LEVY - Fichamento

LÉVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência – O futuro do pensamento na era da informática. São Paulo. Editora 34. Tradução de Carlos Irineu da Costa. 1993.

FICHAMENTO

Pierre Lévy, nascido em 1956 (Tunísia), é pesquisador reconhecido e respeitado na área da cibernética, da inteligência artificial e da internet. Tem formação em Sociologia e Filosofia. Mestre em História da Ciência (Paris, França, Sorbone, 1980). PhD em Sociologia (Paris, EHESS, 1983). PhD em Ciências da Informação e Comunicação (Grenoble, França, 1991). Professor de Cybercultura e Comunicação Social na Universidade de Quebec, Canadá (Departamento de comunicação social, UQTR), desde 1998. É precursor de concepções como inteligência coletiva, ciberespaço, cibercultura e internet como um instrumento de desenvolvimento social. Têm experiência técnica na concepção de sistemas de informação inteligentes. Co-inventor da “árvore do conhecimento”, um sistema para o mapeamento, acesso e intercâmbio de conhecimento em comunidades.

O livro foi lançado em 1992 e publicado em língua portuguesa em 1993. No primeiro parágrafo de sua introdução, intitulada “Face à técnica”, Lévy declara que

"Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das telecomunicações e da informática. As relações entre os homens, o trabalho, a própria inteligência dependem, na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos. Escrita, leitura, visão, audição, criação, aprendizagem são capturados por uma informática cada vez mais avançada. Não se pode mais conceber a pesquisa científica sem uma aparelhagem complexa que redistribui as antigas divisões entre experiência e teoria." (p.4)

A segunda parte do livro se propõe a fazer “uma descrição geral das técnicas contemporâneas de comunicação e processamento de informação por computador (capítulo 9: ‘A rede digital’)”. Para esse desenvolvimento, o autor iniciará com “dados técnicos para fazer um questionamento sobre a temporalidade social e os modos de conhecimento inéditos que emergem do uso das novas tecnologias intelectuais baseadas na informática (capitulo l0: ‘O tempo real’)”. Lévy esclarece que caso “alguns tempos sociais e estilos de saber peculiares estão ligados aos computadores, a impressão, a escrita” e os métodos técnicos de memorização (mnemotécnicos) das sociedades orais[1] não ficaram de lado.

Segundo ele “todas estas "antigas" tecnologias intelectuais tiveram, e têm ainda, um papel fundamental no estabelecimento dos referenciais intelectuais e espaço-temporais das sociedades humanas. Nenhum tipo de conhecimento, mesmo que pareça-nos tão natural, por exemplo, quanto a teoria, é independente do uso de tecnologias intelectuais.” (p. 46)

Para compreensão do estudo e evidenciá-lo o autor afirma ser necessário reposicionar “a análise das evoluções contemporâneas sob o império da informática na continuidade de uma história das tecnologias intelectuais e das formas culturais” a elas ligadas. Este é o principal objetivo dos capítulos 7 ("Palavra e memória") e 8 ("A escrita e a história").

Capítulo 7 – Palavra e memória

Ao conservar e reproduzir os artefatos materiais com os quais vivemos, conservamos ao mesmo tempo os agenciamentos sociais e as representações ligados a suas formas e seus usos. A partir do momento em que uma relação é inscrita na matéria resistente de uma ferramenta, de uma arma, de um edifício ou de uma estrada, toma-se permanente. Linguagem e técnica contribuem para produzir e modular o tempo.” (p.46)

Oralidade Primária e Oralidade Secundária

A presença ou a ausência de certas técnicas fundamentais de comunicação permite classificar as culturas em algumas categorias gerais. Esta classificação apenas nos auxilia a localizar os polos. Não deve fazer com que nos esqueçamos que cada grupo social, em dado instante, encontra-se em situação singular e transitória frente ás tecnologias intelectuais, apenas podendo ser situado, portanto, sobre um continuum complexo.” (p.47)

“A oralidade primária remete ao papel da palavra antes que uma sociedade tenha adotado a escrita, a oralidade secundária está relacionada a um estatuto da palavra que é complementar ao da escrita, tal como o conhecemos hoje. Na oralidade primária, a palavra tem como função básica a gestão da memória social, e não apenas a livre expressão das pessoas ou a comunicação prática cotidiana.” (p.47)

“Numa sociedade oral primária, quase todo o edifício cultural está fundado sobre as lembranças dos indivíduos. A inteligência, nestas sociedades, encontra-se muitas vezes identificada com a memória, sobretudo com a auditiva.” (p.47)

“Como e por que diferentes tecnologias intelectuais geram estilos de pensamento distintos? Passar das descriçõeshistóricas ou antropológicas habituais a uma tentativa de explicação requer uma análise precisa das diversas articulações do sistema cognitivo humano com as técnicas de comunicação e armazenamento.” (p.47)

“Nas sociedades sem escrita, a produção de espaço-tempo está quase totalmente baseada na memória humana associada ao manejo da linguagem. Portanto, é essencial para nosso objetivo determinar as características dessa memória. O que pode ser inscritona mente, e como?” (p.47)

Destas citações, em resumo o autor cita dois tipos de sociedade, uma mais arcaica que se estruturava a partir da oralidade primária, e outra mais moderna baseada na oralidade secundária. A primeira remete à imprescindível importância da palavra falada antes do advento da escrita. Nessa sociedade a inteligência ou sabedoria estaria intimamente relacionada com a gestão da memória social – os ensinamentos, a cultura, a religião, hábitos e costumes - que era transmitido oralmente. A forma de armazenamento dessas informações ou conhecimentos seria a própria memória do indivíduo.

A Memória Humana: Contribuições da Psicologia Cognitiva

“Da mesma forma que o raciocínio espontâneo não tem muito a ver com uma ‘razão’ hipotética fixada em sua essência, nossa memória não se parece em nada com um equipamento de armazenamento e recuperação fiel das informações. [...] de acordo com a psicologia cognitiva contemporânea, não há apenas uma, mas diversas memórias, funcionalmente distintas.” (p.47)

Possuímos a faculdade de construir automatismo sensoriomotores (cognição com uso da prática). No interior desta faculdade - chamada de memória declarativa - existem as memórias de curto e longo prazo. (p.48)

A memória de curto prazo está relacionada com a atenção do sujeito, que tentará reter uma informação durante um curto espaço de tempo para sua rápida utilização. Um recurso usado para o desenvolvimento dela é a constante repetição de uma ação. (p. 48)

A memória de longo prazo, mais complexa que a primeira, supõe-se que funciona com o armazenamento de informações em uma única e imensa rede associativa que deverá contê-la durante um grande período de tempo.

“Quais são as melhores estratégias para armazenar informações na memória de longa prazo e encontrá-las quando precisarmos, talvez anos mais tarde? Muitas experiências em psicologia cognitiva parecem mostrar que a repetição, neste caso, não ajuda muito, ou ao menos que esta não é a estratégia mais eficiente.” (p.48)

Armazenamento e Pesquisa na Memória de Longo Prazo

“Quando uma nova informação ou um novo fato surgem diante de nós, devemos, para gravá-lo, construir uma representação dele. No momento em que a criamos, esta representação encontrasse em estado de intensa ativação no núcleo do sistema cognitivo, ou seja, está em nossa zona de atenção, ou muito próxima a esta zona. [...] O problema da memória de longo prazo é o seguinte: como encontrar um fato, uma proposição ou uma imagem que se achem muito longe de nossa zona de atenção, uma informação que há muito tempo não esteja em estado ativo?” (p.48)

“A ativação mobiliza os elementos mnésicos para os processas controlados, aqueles que envolvem a atenção consciente. É impossível ativar todos os nós da rede mnemônica ao mesmo tempo, já que os recursos da memória de trabalho e dos processas controlados são limitados. Cada vez que nós procuramos uma lembrança ou uma informação, a ativação deverá propagar-se dos fatos atuais até os fatos que desejamos encontrar. Para isto, duas condições devem ser preenchidas. Primeiro, uma representação do fato que buscamos deve ter sido conservada. Segundo, deve existir um caminho de associações possíveis que leve a esta representação. A estratégia de codificação, isto é, a maneira pela qual a pessoa irá construir uma representação do fato que deseja lembrar, parece ter um papel fundamental em sua capacidade posterior de lembrar-se deste fato.” (p. 48)

“Diversos trabalhos de psicologia cognitiva permitiram detalhar as melhores estratégias de codificação. Certas experiências mostraram que quando lhes era sugerido que se lembrassem da lista construindo pequenas histórias ou imagens envolvendo as palavras a serem lembradas, as performances eram médias a curto prazo, mas persistiam por um longo tempo. A esta segunda estratégia damos o nome de elaboração.” (p.48)

“As elaborações são acréscimos à informação alvo. Conectam entre si itens a serem lembrados, ou então conectam estes itens a idéias já adquiridas ou anteriormente formadas. No pensamento cotidiano, os processos elaborativos ocorrem o tempo todo.” (p.48-49)

“É sabido que retemos melhor as informações quando elas estão ligadas a situações ou domínios de conhecimento que nos sejam familiares.” (p.49)

“Como explicar estes efeitos da elaboração? Ela permite sem dúvida acoplar a informação alvo ao restante da rede através de um grande número de conexões. Quanto mais conexões o item a ser lembrado possuir com os outros nós da rede, maior será o número de caminhos associativos possíveis para a propagação da ativação no momento em que a lembrança for procurada.” (p.49)

“Esta explicação permite compreender o papel dos esquemas na memória. A associação de um item de informação com um esquema preestabelecido é uma forma de ‘compreensão’ da representação em questão.” (p.49)

Inconvenientes das Duas Estratégias de Codificação

“A memória humana está longe de ter a performance de um equipamento ideal de armazenamento e recuperação das informações já que, visto que, ela é extremamente sensível aos processos elaborativos e à intensidade dos processamentos controlados que acompanham a codificação das representações. Em particular, parece que temos muita dificuldade para discriminar entre as mensagens originais e as elaborações que associamos a elas.” (.p.49)

As Estratégias Mnemónicas[2] nas Sociedades Orais

“Essas lições da psicologia cognitiva sobre a memória nos permitem compreender melhor como sociedades que não dispõem de meios de armazenamento como a escrita, o cinema ou a fita magnética codificaram seus conhecimentos.” (p.50)

“Quais são as representações que têm mais chances de sobreviver nas ecologias[3] cognitivas essencialmente compostas por memórias humanas? Sem dúvida aquelas que atenderem melhor aos seguintes critérios:

1. As representações serão ricamente interconectadas entre elas, o que exclui listas e todos os modos de apresentação em que a informação se encontra disposta de forma muito modular, muito recortada;

2. As conexões entre representações envolverão sobretudo relações de causa e efeito;

3. As proposições farão referência a domínios do conhecimento concretos e familiares para os membros das sociedades em questão, de forma que eles possam ligá-los a esquemas preestabelecidos;

4. Finalmente, estas representações deverão manter laços estreitos com ‘problemas da vida’, envolvendo diretamente o sujeito e fortemente carregadas de emoção.” (p.50)

“Face às culturas "primitivas", na verdade orais, estamos simplesmente diante de uma classe particular de ecologias cognitivas, aquelas que não possuem os numerosos meios de inscrição externa dos quais dispõem os homens do fim do século XX. Possuindo apenas os recursos de sua memória de longa prazo para reter e transmitir as representações que lhes parecem dignas de perdurar, os membros das sociedades orais exploraram ao máximo o único instrumento de inscrição de que dispunham.” (p.50)

“Dramatização, personalização e artifícios narrativos diversos não visam apenas dar prazer ao espectador. Eles são também condições sine qua non[4] da perenidade de um conjunto de proposições em uma cultura oral. Pode-se melhorar ainda mais a lembrança recorrendo ás memórias musicais e sensoriomotoras como auxiliares da memória semântica[5].” (p.50)

“Os membros das sociedades sem escrita (e portanto sem escola) não são, portanto, ‘irracionais’ porque crêem em mitos. Simplesmente utilizam as melhores estratégias de codificação que estão à sua disposição, exatamente como nós fazemos.

O Tempo da Oralidade: Círculo e Devir

“A forma canônica do tempo nas sociedades sem escrita é o circulo. Evidentemente, isto não significa que não haja qualquer consciência de sucessão ou irreversibilidade nas culturas orais.” (p.51)

“Nestas culturas, qualquer proposição que não seja periodicamente retomada e repetida em voz alta está condenada a desaparecer.” (p.51)

“O tempo da oralidade primária é também o devir, um devir sem marcas nem vestígios. As coisas mudam, as técnicas transformam-se insensivelmente, as narrativas se alteram ao sabor das circunstâncias, pois a transmissão também é sempre recriação, mas ninguém sabe medir essas derivas, por falta de ponto fixo.” (p. 51)

“A memória do oralista primário está totalmente encarnada em cantos, danças, nos gestos de inúmeras habilidades técnicas. Nada é transmitido sem que seja observado, escutado, repetido, imitado, atuado pelas próprias pessoas ou pela comunidade como um todo.” (p. 51)

A Persistência da Oralidade Primária

“A persistência da oralidade primária nas sociedades modernas não se deve tanto ao fato de que ainda falemos (o que está relacionado coma oralidade secundária), mas à forma pela qual as representações e as maneiras de ser continuam a transmitir-se independentemente dos circuitos da escrita e dos meios de comunicação eletrônicos.” (p.51)

“A maior parte dos conhecimentos em uso em 1990, aqueles de que nos servimos em nossa vida cotidiana, nos foram transmitidos oralmente, e a maior parte do tempo sob a forma de narrativa (histórias de pessoas, de famílias ou de empresas). Dominamos a maior porte de nossas habilidades observando, imitando, fazendo, e não estudando teorias na escola ou princípios nos livros.” (p.51)

 

REFERÊNCIAS CONSULTADAS

FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 1838 p.

INFOESCOLA - NAVEGANDO E APRENDENDO. Pierre Lévy. Disponível em: <http://www.infoescola.com/biografias/pierre-levy/>. Acesso em: 15 set. 2013.

LÉVY, Pierre. O universal sem totalidade, essência da cybercultura. Disponível em: <http:// http://caosmose.net/pierrelevy/ouniversalsem.html>. Acesso em: 15 set. 2013.

WIKIPÉDIA – A ENCICLOPÉDIA LIVRE. Pierre Lévy: biografia. Disponível em: <http://www.pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_L%C3%A9vy/>. Acesso em: 15 set. 2013.


II – Os Três Tempos do Espírito: A Oralidade Primária, A Escrita e A Informática


No início deste capítulo, Lévy discorre sobre a oralidade primária nas culturas antigas. Nessas civilizações, a fala das pessoas tinha uma importância diferente da que temos hoje, após a invenção da escrita. Nesses casos, a palavra tinha o papel não apenas de servir como meio de comunicação das pessoas, mas também de memória dos conhecimentos e idéias já obtidos no meio social. Os conhecimentos eram passados pelos mais velhos para os mais novos, de uma geração à outra, sendo deste modo uma sociedade tradicional.




A seguir, Lévy discorre sobre o advento da técnica da escrita como uma forma social do tempo e do saber e, ainda ressalta o aperfeiçoamento da escrita através da impressão e do alfabeto foi fundamental para estabelecer a ciência como modo de conhecimento dominante. Então Lévy faz todo um trajeto histórico analisando os avanços da escrita como meio de registro de informações e, complementa mostrando como a tradição hermenêutica possibilitou a preservação e compreensão dos conhecimentos obtidos por povos antepassados.



Ainda sobre impressão, o autor argumenta sobre a sua importância tanto no plano político como no filosófico e científico. Relata sobre o científico possibilitado pelo advento da impressão, possibilitando uma disseminação muito grande do conhecimento, antes restrito a uma parcela pequena da sociedade através dos manuscritos.

Capítulo 8 – A escrita e a história

Fichamento pego na internet

PALAVRA E MEMÓRIA
“Se a humanidade construiu outros tempos, mais rápidos, mais violentos que o das plantas e animais, é porque dispõe deste extraordinário instrumento de memória e de propagação das representações que a linguagem. (...) Linguagem e técnica contribuem para produzir e modular o tempo” (Lévy, 1993, p.76)

ORALIDADE PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA
“A presença ou a ausência de certas técnicas fundamentais de comunicação permite classificar as culturas em algumas categorias gerais. A oralidade primária remete ao papel da palavra antes que uma sociedade tenha adotado a escrita, a oralidade secundária está relacionada a um estatuto da palavra que é complementar o da escrita, tal como o conhecemos hoje. Na oralidade primária, a palavra tem como função básica a gestão da memória social, e não apenas a livre expressão das pessoas ou a comunicação prática cotidiana. (...) A inteligência, nesta sociedade, encontra-se muitas vezes identificada com a memória, sobretudo com a auditiva.” (Lévy, 1993, p.76/77)

MEMÓRIA HUMANA
“De acordo com a psicologia cognitiva contemporânea, não há apenas uma, mas diversas memórias, funcionalmente distintas. A faculdade de construir automatismos sensório motores parece colocar em jogo recursos nervosos e psíquicos diferentes da aptidão de reter proposições ou imagens. Mesmo no interior desta última faculdade, que chamamos de memória declarativa, podemos ainda fazer a distinção entre memória de curto prazo e memória de longo prazo.” (Lévy, 1993, p.78)
Quando uma nova informação ou um novo fato surgem diante de nós, devemos, para gravá-lo, construir uma representação dele. (...) Cada vez que nós procuramos uma lembrança ou uma informação, a ativação deverá propagar-se dos fatos atuais até os fatos que desejamos encontrar. Para isto, (...) uma representação do fato que buscamos deve ter sido conservado e deve existir um caminho de associações possíveis que leve a esta representação.” (Lévy, 1993, p.79)
“As elaborações são acréscimos à informação alvo. Conectam entre si itens a serem lembrados, ou então conectam estes itens a idéias já adquiridas ou anteriormente formadas. (...) Quanto mais conexões o item a ser lembrado possuir com os outros nós da rede, maior será o número de caminhos associativos possíveis para a propagação da ativação no momento em que a lembrança for procurada.” (Lévy, 1993, p.80)
“A intensidade das associações, a maior ou menor profundidade do nível dos processamentos e dos processos controlados que acompanharam a aquisição de uma representação também desempenha um papel fundamental. (...) A implicação emocional das pessoas face aos itens a lembrar irá igualmente modificar, de forma drástica, suas performances mnemônicas. Quanto mais estivermos pessoalmente envolvidos com uma informação, mais fácil será lembrá-la”. (Lévy, 1993, p.81)
Lévy (1993) nos diz que a memória humana “é extremamente sensível aos processos elaborativos e à intensidade dos processamentos controlados que acompanham a codificação das representações. Em particular, parece que temos muita dificuldade para discriminar entre as mensagens originais e as elaborações que associamos a elas”. (p.81)
As representações que têm mais chances de sobreviver, segundo Lévy (1993), nas ecologias cognitivas essencialmente compostas por memórias humanas identificam-se com o mito. “O mito codifica sob forma de narrativa algumas das representações que parecem essenciais aos membros de uma sociedade. Dado o funcionamento da memória humana, e na ausência de técnicas de fixação da informação como escrita, há poucas possibilidades que outros gêneros de organização das representações possam transmitir conhecimentos de forma duradoura. Os membros das sociedades sem escrita (e portanto sem escola) não são portanto, “irracionais” porque crêem em mitos. Simplesmente utilizam as melhores estratégias de codificação que estão à sua disposição, exatamente como nós fazemos.” (Lévy, 1993, p.82-83)


A ESCRITA E A HISTÓRIA
“O eterno retorno da oralidade foi substituído pelas longas perspectivas da história. A teoria, a lógica e as sutilizas da interpretação dos textos foram acrescentadas às narrativas místicas no arsenal do saber humano. (...) Compreender o lugar fundamental das tecnologias da comunicação e da inteligência na história cultural nos leva a olhar de uma nova maneira a razão, a verdade, e a história, ameaçadas de perder sua preeminência na civilização da televisão e do computador.” (Lévy, 1993, p.87)

A TRADIÇÃO HERMENÊUTICA
“A escrita permite uma situação prática de comunicação radicalmente nova. Pela primeira vez os discursos podem ser separados das circunstâncias particulares em que foram produzidos. (...) Quando mensagens fora de contexto e ambíguas começam a circular, a atribuição do sentido passa a ocupar um lugar central no processo de comunicação. O exercício de interpretação tem tanto mais importância quanto mais as escritas em questão são difíceis de decifrar.” (Lévy, 1993, p.89)

O SABER TEÓRICO, A ORGANIZAÇÃO MODULAR E SISTEMÁTICA DOS CONHECIMENTOS
“Vimos que a escrita, ao separar as mensagens das situações onde são usados e produzidos os discursos, suscita a ambição teórica e as pretensões à universalidade. Há ainda outras razões que ligam a escrita à ascensão do gênero teórico e ao declínio do modo de transmissão e de organização dos conhecimentos através da narrativa. Em particular, a notação escrita torna muito mais cômoda a conservação e a transmissão de representações modulares separadas, independentes de ritos ou narrativas.” (Lévy, 1993, p.91)
“Ao invés de estarem mais intimamente conectadas entre si para responder às restrições da memória de longo prazo humana, as representações passam a poder ser transmitidas e durar de forma autônoma. A partir de então os números e as palavras podem ser dispostos em listas e tabelas.(...) Com seus bancos de dados de todos os tipos armazenados em memória ótica ou magnética, a informática apenas aumenta a quantidade socialmente disponível de informações modulares e fora de contexto.” (Lévy, 1993, p.92)

O TEMPO DA IMPRESSÃO
“A impressão transformou profundamente o modo de transmissão dos textos. (...) O destinatário do texto é agora um indivíduo isolado que lê em silêncio. Mais que nunca, a exposição escrita se apresenta como auto-suficiente.” (Lévy, 1993, p.96)
“A impressão permitiu que as diferentes variantes de um texto fossem facilmente comparadas. Colocou à disposição do erudito traduções e dicionários. As cronologias começaram a unificar-se. A crítica histórica e filológica começou, portanto, a ser exercida, inclusive sobre os textos sagrados.” (Lévy, 1993, p.98)
“Ao mesmo tempo, foi possível dar mais atenção às descobertas recentes, e a impressão permita fixar corretamente e difundir em grande escala as novas observações astronômicas, geográficas ou botânicas. Um processo cumulativo, que iria levar à explosão do saber, é engatilhado.” (Lévy, 1993, p. 98)
“Podemos sustentar que a invenção de Gutenberg permitiu que um novo estilo cognitivo se instaurasse. (...) Passamos da discussão verbal, tão característica dos hábitos intelectuais da Idade Média, à demonstração visual, mais que nunca em uso nos dias atuais em artigos científicos e na prática cotidiana dos laboratórios, graças a estes novos instrumentos de visualização, os computadores.” (Lévy, 1993, p.99)

REFERÊNCIAS CONSULTADAS

FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 1838 p.

INFOESCOLA - NAVEGANDO E APRENDENDO. Pierre Lévy. Disponível em: <http://www.infoescola.com/biografias/pierre-levy/>. Acesso em: 15 set. 2013.

LÉVY, Pierre. O universal sem totalidade, essência da cybercultura. Disponível em: <http:// http://caosmose.net/pierrelevy/ouniversalsem.html>. Acesso em: 15 set. 2013.

WIKIPÉDIA – A ENCICLOPÉDIA LIVRE. Pierre Lévy: biografia. Disponível em: <http://www.pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_L%C3%A9vy/>. Acesso em: 15 set. 2013.


[1] “[...] onde, as mensagens linguísticas sempre eram recebidas no momento e no local de sua emissão. Emissores e receptores partilhavam uma situação idêntica e, na maioria das vezes, um universo semelhante de significado.” LÉVY (2013)

[2] Arte e técnica de desenvolver e fortalecer a memória mediante processos artificiais auxiliares, como, p. ex.: a associação daquilo que deve ser memorizado com dados já conhecidos ou vividos; combinações e arranjos; imagens, etc. (FERREIRA, 1986)

[3] Biologia: ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si ou com o meio orgânico ou inorgânico no qual vivem; analogia: estudo das relações recíprocas entre o homem e seu meio moral, social, econômico.

[4] termo legal emlatimque pode ser traduzido como “sem a/o qual não pode ser”.

[5] Onde são armazenadas as informações de conhecimentos gerais, conceitos, significados das palavras. É ativada quando lidamos com conceitos atemporais.