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Cibercultura: uma relação entre sociedade e ciberespaço

Buscando analisar as interações e as implicações culturais que o desenvolvimento das tecnologias digitais traz à sociedade, Pierre Levy lança no Brasil em 1999 o livro “Cibercultura”, resultado de um relatório solicitado pelo Conselho Europeu para o projeto “Novas tecnologias: cooperação cultural e comunicação”.

No primeiro capítulo intitulado como “As tecnologias têm um impacto?”, Levy aborda conceitos chave para a compreensão da Cibercultura como a chamada “inteligência coletiva”, que pode ser entendida como a soma da produção de conhecimento do ciberespaço, e o conceito de virtual, algo que está fora do plano material, mas traz o ponto inicial para traduzir a idéia no real.

Para Levy a inteligência coletiva abrange processos para “o estabelecimento de uma sinergia entre competências, recursos e projetos, a constituição e manutenção dinâmicas de memórias em comum, a ativação de modos de cooperação flexíveis e transversais”, (LEVY;28). A visão externa dos conhecimentos compartilhados no ciberespaço, por meio do uso de dispositivos interativos e comunitários, como por exemplo, comunidades virtuais, blogs, fóruns, wikis, pode ser classificada como inteligência coletiva.

Na parte intitulada “O mundo humano é, ao mesmo tempo, técnico” o autor defende que a técnica não é uma entidade real que existiria independentemente, mas um ponto de vista que enfatiza a parte material e artificial dos fenômenos humanos. Por isso, Levy acredita que não é a tecnologia que tem um impacto; esse impacto pode ser causado pelos próprios homens, inventores e produtores das diferentes técnicas que causam consequências na cultura e sociedade.

Pierre Lévy diferencia os conceitos de determinante e condicionante para caracterizar a técnica e afirma que ela apenas condiciona a sociedade. “Dizer que a técnica condiciona significa dizer que abre algumas possibilidades, que algumas opções culturais ou sociais não poderiam ser pensadas a sério sem sua presença” (LEVY; 25).

A aceleração das alterações técnicas é uma constante e um paradoxo na cibercultura. Essa velocidade explica a sensação de impacto, exterioridade e estranheza que nos toma quando tentamos acompanhar o movimento das técnicas. Em contrapartida, quanto mais a inteligência coletiva se desenvolve, melhor é a apropriação dessas alterações técnicas e menores são os efeitos de exclusão.

O filósofo usa a metáfora do “labirinto sem fim” (LEVY; 113) para ilustrar a essência da cibercultura: o universal sem totalidade. Um labirinto que possui múltiplas entradas e saídas, isso quando estas existem.

O ciberespaço tende à universalidade e à sistematicidade em um sentido mais forte que os outros grandes sistemas técnicos, porque constitui a infraestrutura de comunicação e organização de outros sistemas; e a universalidade é o principal significado ou valor da cibercultura. A partir desse ponto, Lévy opõe as noções de universal e totalizável. O paradoxo central do ciberespaço é que quanto mais universal (extenso, interconectado, interativo), menos totalizável.

A universalidade é caracterizada pela unificação de processos comunicativos, pelo conceito de comunicação em todas as relações. Podemos entender o paradoxo entre universalidade e totalidade quando o autor explica como o ambiente do ciberespaço se comporta em relação as informações produzidas nele: “qualquer que seja a mensagem abordada, encontra-se conectada com outras mensagens, a comentários, a glosas em evolução constante, às pessoas que se interessam por ela, aos fóruns onde se debate sobre ela aqui e agora. Seja qual for o texto, ele é o fragmento talvez ignorado do hipertexto móvel que o envolve, o conecta a outros textos e serve como mediador ou meio para uma comunicação recíproca, interativa, interrompida”. (LEVY; 109)

Pierre Levy defende a tese que “a emergência do ciberespaço é fruto de um verdadeiro movimento social, com seu grupo líder (a juventude metropolitana escolarizada) suas palavras de ordem e suas aspirações coerentes” (LEVY; 125). Para explicar o programa da cibercultura, aponta três princípios que orientaram o crescimento inicial do ciberespaço. A interconexão: “Os veículos de informação não estariam mais no espaço, mas, por meio de uma espécie de reviravolta topológica, todo o espaço se tornaria um canal interativo” (LEVY;129); As comunidades virtuais: construídas sobre afinidades de interesses e conhecimentos, em um processo de cooperação ou de troca, movidas por um conjunto de leis consuetudinárias. “Uma comunidade virtual não é irreal, imaginária ou ilusória, trata-se simplesmente de um coletivo mais ou menos permanente que se organiza por meio do novo correio eletrônico mundial” (LEVY;132).

Por isso, o autor defende a expressão “comunidade atual” para descrevê-las; A inteligência coletiva: o ideal coletivo inteligente, mais imaginativo, mais rápido e mais capaz de aprender e inventar do que um coletivo inteligentemente gerenciado é o que move grupos de pessoas a se constituírem comunidades virtuais.